A Escola Doméstica, fundada em 15 de março de 1930 pela missionária norte-americana que deu nome a instituição, é a representação daquilo que era comum no passado, só que atualmente em versão moderna, com cursos voltados para profissionalização de pessoas. Os cursos oferecidos vão desde Arte Culinária, Decoração e Bolo, até Pintura em Tela e Corte e Costura. A novidade são os cursos de Telemarketing, Recepção Clínica com Faturamento de Convênios Médicos e Auxiliar Administrativo com Departamento Pessoal. Homens, mulheres e em alguns casos, até mesmo crianças podem participar das aulas.
KATE WHITE
Cursos antigos resistem timidamente em Salvador
Kleyzer Seixas
Meninas e adolescentes são preparadas desde cedo para encarar o competitivo mercado de trabalho. Estudam, fazem cursos e especializações voltadas para a área profissional e concorrem por vagas e cargos com os homens de igual para igual. Essa realidade, no entanto, não fazia parte da vida de garotas da classe media baiana há cerca de 50 anos. Naquela época, as jovens eram preparadas para serem mulheres do lar e cuidarem dos seus maridos, não para concorrer com eles. Recebiam ainda uma educação mais requintada, que incluía desde preparar bons pratos até ser uma espécie de faz-tudo do lar, do bordado ao serviço de chá, dominavam todos os conhecimentos para agradar a família e, claro, assegurar o casamento. O padrão feminino, no entanto, mudou ao longo dos anos. Por conta dessa transformação, as escolas dedicadas “às moças de fino trato” perderam espaço e público em Salvador. Algumas ainda resistem em bairros do centro da capital, mas a procura, diz Rosa Xavier Dubois, diretora da escola para moças Kate White, é bem pequena se comparada há cerca de 20 anos. A escola foi fundada há mais de sete décadas para ensinar bons modos e cursos que transformavam qualquer mocinha em uma exímia dona-de-casa. “Hoje temos, em média, cerca de 200 alunos por mês. Nos bons tempos, chegamos a ter, aproximadamente, cerca de 600”, destaca Rosa, saudosa da época em que as moças “da classe A da sociedade baiana” lotavam a Rua Democrata, nas imediações do Largo dos Aflitos. O aprendizado nas escolas especializadas como a Kate White ia desde cursos de etiqueta e culinária, até os clássicos corte e costura. Todos eles destinados às candidatas que prezavam pelo perfil da “esposa ideal”. As moças aprendiam também a pintar porcelanas para garantir a decoração das salas e dependências. Eram instruídas ainda a preparar a mesa e distribuir corretamente os talheres. Costurar para fazer reparos nas roupas dos maridos e filhos, caso fosse necessário, também era uma prática comum. As damas da época eram também instruídas a vestir-se de acordo com o seu biotipo, com o chamado curso de silhueta. As professoras ensinavam às alunas a usar os modelos que se adequavam melhor aos seus corpos. Para as mais magras, um determinado modelito. As moças de contornos mais redondos deveriam optar por outros que afinassem a cintura. As alunas eram mulheres da alta sociedade. Todas muito bem arrumadas, com chapéus bonitos e caros; além de andarem bastante perfumadas. “Como elas iam somente a eventos sociais dos seus grupos e saíam apenas com os esposos e filhos, viam na escola a oportunidade de quebrar um pouco a rotina”, comenta Rosa Dubois, ao lembrar das limitações femininas no período. “A escola era apenas para moças e os maridos não tinham ciúmes. Se elas fossem vistas com outros homens causavam perplexidade na sociedade do período. Então, a Kate White passou a ser um lugar que dava uma certa liberdade a elas de conviver com outras senhoras e aprender ofícios para aplicar no próprio lar”, explica a diretora. A queda na freqüência de alunos é atribuída também à demolição de parte do prédio nos anos 60. Segundo Rosa Xavier Dubois, a administração municipal da época alegou que o edifício atrapalhava o fluxo de veículos na avenida Sete e causava transtornos ao tráfego local. Muitos cursos foram extintos com a destruição de parte do edifício. “A escola ficou menor e não tínhamos como comportar a quantidade de alunos de antigamente”, conta Janete Fernandes, 63, professora de pintura e culinária, artes que aprendeu na própria Kate White. Mercado de trabalho - Hoje, a escola oferece aulas de piano, corte e costura, pintura em tecido, pintura sobre tela, arte culinária, decoração de bolo e desenho. Se adequando ao mercado de trabalho atual, tem também recepção clínica com faturamento, auxiliar administrativo e telemarketing. Os valores variam de R$ 60,00 a R$ 120,00. De acordo com Janete Fernandes, a Kate White não fatura como há 30 anos, mas o valor arrecadado mensalmente é necessário para manter o funcionamento da sede e garantir o pagamento dos oito funcionários que compõem o quadro do local. “Pelo menos, não ficamos em déficit”. Mas, não só o publico diminuiu como mudou de perfil. Ao invés de reunir apenas mulheres interessadas em aprender boas maneiras para agradar a família, a escola hoje tem todo tipo de aluno. De crianças de oito anos a senhoras com mais de 90, interessadas em aprender pintura em tela. Com 94 anos, Dona Éster Spínola é a aluna mais velha da Kate White. No local, ela faz curso de pintura acrílica uma vez por semana, às terças-feiras. A aula dura, em média, duas horas. Nesse período, colore os desenhos. Os preferidos são paisagens. “Comecei a me interessar pela arte há mais de 20 anos, quando fui levar a minha neta para fazer um curso na escola. Assisti as aulas e gostei muito, daí resolvi participar, é uma terapia. Meus médicos me recomendam, dizem que é necessário para ocupar a minha mente, me distrair. A aluna mais nova, Gabriela Luz, de 8 anos, também se inscreveu para aprender a pintar. Menino também entra - Os homens, uma raridade nos anos de fundação da Kate White, também integram o quadro de alunos. Tem até advogado e engenheiro querendo aprender a deixar de fazer apenas ovo frito com arroz para preparar pratos mais saborosos e diferenciados. Muitos também vão em busca de profissionalização. Querem se especializar e enriquecer o currículo para conseguir trabalho em bares e restaurantes. “Muitas pessoas – homens e mulheres - querem aprender a cozinhar para encontrar emprego”, informa a professora Creuza Sampaio, 57. Sentados em carteiras antigas que compõem a cozinha, os alunos de culinária aprendem diversos tipos de receitas. Observam as professoras no preparo dos ingredientes, formatação dos pratos e decoração das iguarias. Tudo feito com muito apreço pelas funcionárias da escola. Mas eles não ficam apenas olhando. Fazem anotações extras sobre os pratos e copiam os “segredinhos” das receitas. Os mais interessados metem a mão na massa e cozinham até em fogões niquelados, também antigos e trazidos dos Estados Unidos pela fundadora da Kate White. Túnel do tempo - A escola ainda mantém uma estrutura composta por móveis e objetos bastante antigos, que confere ao local um certo charme e provoca saudosismo aos freqüentadores mais velhos. São três pianos – alemão, francês e brasileiro – da década de 50 - que tomam toda a sala de música. Na ala de costura, uma mesa grande de madeira e três máquinas de costurar de ferro, madeira e movidas a pedal. A mais velha delas é de 1910 e pertence Rosa Xavier Dubois. “Na verdade, a máquina era da minha mãe, que me deu de presente”, conta. As paredes das salas de aulas são decoradas por quadros, muitos deles também antigos, pintados pelos alunos. A sala de pintura em porcelana, por exemplo, é toda decorada por pratos – pendurados nas paredes -, jarros e potes, que adornam estantes e muros. Todos eles são coloridos pelas pessoas que já passaram pelo local. A escola foi fundada em 1930, por Kate White, uma missionária norte-americana do estado de Ohio, que passou a morar no Brasil depois dos anos 20. Ela decidiu abrir a escola aconselhada por amigos. Queria também ter mais contato com os brasileiros e aprender mais sobre a língua portuguesa, já que pretendia continuar residindo no Brasil. A primeira sede da escola foi na Rua Democrata. Depois, o local passou a ter cada vez mais inscritos e foi necessária a transferência para a avenida Sete, esse prédio foi demolido na década de 60. Depois, uma nova escola foi erguida na Praça Centenário Batista, Dois de Julho, onde funciona até hoje. Serviço Escola Kate White Endereço: Praça Centenário Batista, Dois de Julho, nº 1, Centro Telefone: (71) 3329-5679 Endereço eletrônico: http://www.escolakatewhite.com.br
Kleyzer Seixas
Meninas e adolescentes são preparadas desde cedo para encarar o competitivo mercado de trabalho. Estudam, fazem cursos e especializações voltadas para a área profissional e concorrem por vagas e cargos com os homens de igual para igual. Essa realidade, no entanto, não fazia parte da vida de garotas da classe media baiana há cerca de 50 anos. Naquela época, as jovens eram preparadas para serem mulheres do lar e cuidarem dos seus maridos, não para concorrer com eles. Recebiam ainda uma educação mais requintada, que incluía desde preparar bons pratos até ser uma espécie de faz-tudo do lar, do bordado ao serviço de chá, dominavam todos os conhecimentos para agradar a família e, claro, assegurar o casamento. O padrão feminino, no entanto, mudou ao longo dos anos. Por conta dessa transformação, as escolas dedicadas “às moças de fino trato” perderam espaço e público em Salvador. Algumas ainda resistem em bairros do centro da capital, mas a procura, diz Rosa Xavier Dubois, diretora da escola para moças Kate White, é bem pequena se comparada há cerca de 20 anos. A escola foi fundada há mais de sete décadas para ensinar bons modos e cursos que transformavam qualquer mocinha em uma exímia dona-de-casa. “Hoje temos, em média, cerca de 200 alunos por mês. Nos bons tempos, chegamos a ter, aproximadamente, cerca de 600”, destaca Rosa, saudosa da época em que as moças “da classe A da sociedade baiana” lotavam a Rua Democrata, nas imediações do Largo dos Aflitos. O aprendizado nas escolas especializadas como a Kate White ia desde cursos de etiqueta e culinária, até os clássicos corte e costura. Todos eles destinados às candidatas que prezavam pelo perfil da “esposa ideal”. As moças aprendiam também a pintar porcelanas para garantir a decoração das salas e dependências. Eram instruídas ainda a preparar a mesa e distribuir corretamente os talheres. Costurar para fazer reparos nas roupas dos maridos e filhos, caso fosse necessário, também era uma prática comum. As damas da época eram também instruídas a vestir-se de acordo com o seu biotipo, com o chamado curso de silhueta. As professoras ensinavam às alunas a usar os modelos que se adequavam melhor aos seus corpos. Para as mais magras, um determinado modelito. As moças de contornos mais redondos deveriam optar por outros que afinassem a cintura. As alunas eram mulheres da alta sociedade. Todas muito bem arrumadas, com chapéus bonitos e caros; além de andarem bastante perfumadas. “Como elas iam somente a eventos sociais dos seus grupos e saíam apenas com os esposos e filhos, viam na escola a oportunidade de quebrar um pouco a rotina”, comenta Rosa Dubois, ao lembrar das limitações femininas no período. “A escola era apenas para moças e os maridos não tinham ciúmes. Se elas fossem vistas com outros homens causavam perplexidade na sociedade do período. Então, a Kate White passou a ser um lugar que dava uma certa liberdade a elas de conviver com outras senhoras e aprender ofícios para aplicar no próprio lar”, explica a diretora. A queda na freqüência de alunos é atribuída também à demolição de parte do prédio nos anos 60. Segundo Rosa Xavier Dubois, a administração municipal da época alegou que o edifício atrapalhava o fluxo de veículos na avenida Sete e causava transtornos ao tráfego local. Muitos cursos foram extintos com a destruição de parte do edifício. “A escola ficou menor e não tínhamos como comportar a quantidade de alunos de antigamente”, conta Janete Fernandes, 63, professora de pintura e culinária, artes que aprendeu na própria Kate White. Mercado de trabalho - Hoje, a escola oferece aulas de piano, corte e costura, pintura em tecido, pintura sobre tela, arte culinária, decoração de bolo e desenho. Se adequando ao mercado de trabalho atual, tem também recepção clínica com faturamento, auxiliar administrativo e telemarketing. Os valores variam de R$ 60,00 a R$ 120,00. De acordo com Janete Fernandes, a Kate White não fatura como há 30 anos, mas o valor arrecadado mensalmente é necessário para manter o funcionamento da sede e garantir o pagamento dos oito funcionários que compõem o quadro do local. “Pelo menos, não ficamos em déficit”. Mas, não só o publico diminuiu como mudou de perfil. Ao invés de reunir apenas mulheres interessadas em aprender boas maneiras para agradar a família, a escola hoje tem todo tipo de aluno. De crianças de oito anos a senhoras com mais de 90, interessadas em aprender pintura em tela. Com 94 anos, Dona Éster Spínola é a aluna mais velha da Kate White. No local, ela faz curso de pintura acrílica uma vez por semana, às terças-feiras. A aula dura, em média, duas horas. Nesse período, colore os desenhos. Os preferidos são paisagens. “Comecei a me interessar pela arte há mais de 20 anos, quando fui levar a minha neta para fazer um curso na escola. Assisti as aulas e gostei muito, daí resolvi participar, é uma terapia. Meus médicos me recomendam, dizem que é necessário para ocupar a minha mente, me distrair. A aluna mais nova, Gabriela Luz, de 8 anos, também se inscreveu para aprender a pintar. Menino também entra - Os homens, uma raridade nos anos de fundação da Kate White, também integram o quadro de alunos. Tem até advogado e engenheiro querendo aprender a deixar de fazer apenas ovo frito com arroz para preparar pratos mais saborosos e diferenciados. Muitos também vão em busca de profissionalização. Querem se especializar e enriquecer o currículo para conseguir trabalho em bares e restaurantes. “Muitas pessoas – homens e mulheres - querem aprender a cozinhar para encontrar emprego”, informa a professora Creuza Sampaio, 57. Sentados em carteiras antigas que compõem a cozinha, os alunos de culinária aprendem diversos tipos de receitas. Observam as professoras no preparo dos ingredientes, formatação dos pratos e decoração das iguarias. Tudo feito com muito apreço pelas funcionárias da escola. Mas eles não ficam apenas olhando. Fazem anotações extras sobre os pratos e copiam os “segredinhos” das receitas. Os mais interessados metem a mão na massa e cozinham até em fogões niquelados, também antigos e trazidos dos Estados Unidos pela fundadora da Kate White. Túnel do tempo - A escola ainda mantém uma estrutura composta por móveis e objetos bastante antigos, que confere ao local um certo charme e provoca saudosismo aos freqüentadores mais velhos. São três pianos – alemão, francês e brasileiro – da década de 50 - que tomam toda a sala de música. Na ala de costura, uma mesa grande de madeira e três máquinas de costurar de ferro, madeira e movidas a pedal. A mais velha delas é de 1910 e pertence Rosa Xavier Dubois. “Na verdade, a máquina era da minha mãe, que me deu de presente”, conta. As paredes das salas de aulas são decoradas por quadros, muitos deles também antigos, pintados pelos alunos. A sala de pintura em porcelana, por exemplo, é toda decorada por pratos – pendurados nas paredes -, jarros e potes, que adornam estantes e muros. Todos eles são coloridos pelas pessoas que já passaram pelo local. A escola foi fundada em 1930, por Kate White, uma missionária norte-americana do estado de Ohio, que passou a morar no Brasil depois dos anos 20. Ela decidiu abrir a escola aconselhada por amigos. Queria também ter mais contato com os brasileiros e aprender mais sobre a língua portuguesa, já que pretendia continuar residindo no Brasil. A primeira sede da escola foi na Rua Democrata. Depois, o local passou a ter cada vez mais inscritos e foi necessária a transferência para a avenida Sete, esse prédio foi demolido na década de 60. Depois, uma nova escola foi erguida na Praça Centenário Batista, Dois de Julho, onde funciona até hoje. Serviço Escola Kate White Endereço: Praça Centenário Batista, Dois de Julho, nº 1, Centro Telefone: (71) 3329-5679 Endereço eletrônico: http://www.escolakatewhite.com.br
PESQUISADO E POSTADO, PELO PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ).
REFERÊNCIA:
http://escolakatewhite.blogspot.com.br/p/escola.html
http://confrariatextos.blogspot.com.br/2007/08/kate-white.html